Adolescentes, crianças e até mesmo bebês, por vezes, necessitam de transplantes de córnea, embora grande parte dessa cirurgia seja realizada em adultos.
Pesquisadores australianos registraram o sucesso do transplante e os resultados visuais de 640 pacientes jovens que receberam novas córneas, entre 1985 e 2009. O estudo foi publicado na revista da Academia Americana de Oftalmologia.
A equipe de pesquisadores descobriu que a maior taxa de sucesso do transplante de córnea ocorreu em pacientes adolescentes que tratavam o ceratocone. Cerca de 86% dos transplantes foram feitos por esta razão em pacientes com idades entre 13-19 anos.
Os transplantes foram considerados bem sucedidos se melhorassem significativamente a visão e se as novas córneas permanecessem saudáveis por mais de 10 anos. Dentro deste subgrupo de pacientes com ceratocone, 75% dos pacientes conseguiram uma correção da visão em torno de 50% de visão ou melhor (para alguns ainda era necessário usar óculos, lentes de contato ou fazer uma cirurgia de correção visual), e 90% ainda tinha córneas viáveis em mais de 10 anos de acompanhamento.
De acordo com os pesquisadores, a melhoria da visão foi substancial nas crianças de todas as faixas etárias em quem os transplantes foram realizados, o que resultou num impacto positivo significativo sobre o desenvolvimento social e educacional.
A partir dos registros de visão pré-cirurgica disponíveis, os pesquisadores descobriram que antes dos transplantes, a maioria das crianças tinha 10% de visão (definida como legalmente cego), e após a cirurgia, entre 60-80% deles atingiu o patamar de 50% de visão, que se manteve por até 15 anos.
Bebês e crianças mais velhas também foram monitorados pelos pesquisadores. Os bebês (menores de cinco anos) apresentaram uma taxa de sucesso de apenas 50%, em função das doenças que fizeram o transplante necessário. Muitos dos recém-nascidos apresentaram transtornos de desenvolvimento graves que podem ter afetado o sucesso do transplante.
Crianças com idades entre 5-12 anos receberam o transplante por uma variedade de razões e tiveram taxas de sucesso equivalentes a de adultos tratados por razões semelhantes. Menos de 40% dos pacientes do grupo infantil tinha córneas funcionais, 16 anos, após a cirurgia, em comparação com 70%, no grupo de 5-12 anos, que tinha córneas funcionais, mesmo 22 anos após a cirurgia.
“O ceratocone é resultado de uma alteração das fibras de colágeno que, progressivamente, faz com que a córnea adquira formato cônico e irregular, resultando em progressão da miopia e do astigmatismo. De acordo com a National Keratoconus Foundation, a causa exata da doença ainda é desconhecida. Sabe-se que a genética, o ambiente (alergias, coceiras nos olhos, estresse oxidativo) e fatores hormonais desempenham um papel fundamental para o aparecimento do problema.
Tanto que é muito comum durante a puberdade e pode progredir durante a gravidez. Mas também o uso incorreto de lentes de contato – bem como lentes que não transmitem oxigênio adequadamente – pode provocar o ceratocone”, explica o oftalmologista Virgílio Centurion, diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.
Dentre as muitas doenças oculares, o ceratocone é uma das que exige diagnóstico precoce para interromper sua progressão e permitir um tratamento mais bem sucedido.
Fonte: Dr. Visão